Vídeo de reunião ministerial divulgado. Confira a repercussão
Foto: Marcos Corrêa/PR
Euforia. Preocupação. Tensão. Foi assim que muita gente ficou após decisão, no final da tarde de ontem (22), do Ministro do STF, Celso de Mello em anunciar que iria divulgar o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, após acusações de Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
O conteúdo do vídeo pode ser dividido em duas partes. A primeira, na que se refere à acusação de Sérgio Moro para com o atual presidente. Bolsonaro chegou a dizer em um momento da gravação, que não pode ser surpreendido por notícias divulgadas pela imprensa porque não recebe informações da PF, Inteligência das Forças Armadas e Abin. Disse também: “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.” e completou dizendo que tem ‘sistema particular’ de informações que funciona e que o sistema oficial desinforma.
Outra momento bastante tenso da reunião, é quando Bolsonaro comenta sobre João Dória, governador de São Paulo, Wilson Witzel, governador do Rio e do prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto: “Que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado! Né?”.
A segunda parte envolve os outros ministros. Um dos pontos mais polêmicos é quando o Ministro da Educação Abraham Weintraub disse: “A gente tá perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo tá gritando. Não tá gritando pra ter mais Estado, pra ter mais projetos, pra ter mais… o povo tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a gente tá perdendo, tá perdendo mesmo. A ge… o povo tá querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF.”
Além desta fala, Weintraub comentou que odeia o termo povos indígenas: “Odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro, só tem um povo. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios.”
O outro ministro que gerou bastante polêmica com sua fala, foi o do meio ambiente, Ricardo Salles: “A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro nessas viagens que se referiu o Onyx [Lorenzoni] certamente cobrou dele, cobrou do Paulo [Guedes]…” Em seguida, o ministro insistiu com Bolsonaro sobre a intervenção em assuntos ligados ao meio ambiente durante o período da pandemia. “Então, pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, regulam, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”.
Damares Silva, Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disse que vai pegar pesado contra prefeitos e governadores: “Mulheres sendo jogadas no chão e sendo algemadas por não terem feito nada … feito nada. Nós estamos vendo padres sendo multados em R$ 90 mil porque estavam dentro da igreja com dois fieis. A maior violação de direitos humanos da história do Brasil nos últimos 30 anos está acontecendo neste momento, mas nós estamos tomando providências. A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós tamo subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos.”
Após a divulgação do vídeo, aliados e oposicionistas comentaram sobre o conteúdo, veja abaixo:
Jair Bolsonaro, presidente – “Cadê a parte desse vídeo de duas horas onde minimamente tem indícios de que eu teria interferido na Polícia Federal, na superintendência do Rio de Janeiro ou na diretoria-geral da PF? Não tem nada”.
Sergio Moro, ex-ministro da Justiça – “A verdade foi dita, exposta em vídeo, mensagens, depoimentos e comprovada com fatos posteriores, como a demissão do Diretor-Geral da PF e a troca na superintendência do Rio de Janeiro. Quanto a outros temas exibidos no vídeo, cada um pode fazer a sua avaliação”.
João Doria (PSDB), governador de São Paulo – “O Brasil está atônito com o nível da reunião ministerial. Palavrões, ofensas e ataques a governadores, prefeitos, parlamentares e ministros do Supremo, demonstram descaso com a democracia, desprezo pela nação e agressões à institucionalidade da Presidência da República”.
Arthur Virgílio Neto – Prefeito de Manaus – “Não me surpreendi com os insultos do presidente Jair Bolsonaro por ele ser uma pessoa de baixo nível e que não tem a mais mínima condição de governar o Brasil. Não entendo como os ministros podem se desmoralizar a conviver com uma pessoa de baixa extração”.
Wilson Witzel – Governador do Rio de Janeiro – “A falta de respeito de Bolsonaro pelos poderes atinge a honra de todos. Sinto na pele seu desapreço pela independência dos poderes. E espero que num futuro breve o povo brasileiro entenda que, do que ele me chama, é essencialmente como ele próprio se vê”.
Partidos da Oposição – “As bancadas dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados – PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e Rede – manifestam seu veemente repúdio ao conteúdo de vídeo de reunião ministerial do governo Bolsonaro, bem como à nota divulgada pelo general Augusto Heleno, com um ataque inaceitável ao Supremo Tribunal Federal. A reunião ministerial revela a total desconexão do governo com o combate à pandemia, que em nenhum momento é fator de preocupação para o Presidente e seus Ministros. Além disso, fica claro o baixo nível dos integrantes do atual governo. Como bárbaros, jogam a República no caos, desrespeitam as leis, as instituições e ignoram a Constituição”.
Onyx Lorenzoni, ministro da Cidadania disse: “A divulgação do vídeo da reunião mostra claramente um governo comandado por um homem que se preocupa em servir ao povo brasileiro. O Brasil não estava acostumado a isso, e sim com governos que se serviam do trabalho do povo brasileiro”.
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente se defendeu: “Sempre defendi desburocratizar e simplificar normas, em todas as áreas, com bom senso e tudo dentro da lei. O emaranhado de regras irracionais atrapalha investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável no Brasil”.
Marco Feliciano (Republicanos-SP), deputado – “Acabei de assistir ao “vídeo-bomba”. Cara gritando de medo! As falas do PR @jairbolsonaro só provam que ESSE É O PRESIDENTE EM QUEM O BRASILEIRO VOTOU! Idealista, sincero e transparente, exercendo a autoridade que o cargo lhe confere, usando algumas palavras não polidas. O denunciante passará vergonha”.
Caroline De Toni (PSL-SC), deputada – “Vídeo da reunião ministerial mostra o PR @jairbolsonaro indignado com o estado de coisas que se instalou no país, com a iminência do comunismo, sua preocupação com o povo, com as liberdades. A exibição do vídeo só vai ajudar numa coisa: na reeleição do PR”.
Jaques Wagner (PT-BA), senador – “O vídeo foi requisitado como prova. E como prova, mostra a tentativa de interferência na Polícia Federal do Rio de Janeiro. E revela, definitivamente, que ele não é uma pessoa preparada para comandar uma equipe, muito menos para governar um país. Fica nítido o constrangimento de vários ministros”.