Saúde decide manter intervalo de 3 meses entre doses da AstraZeneca e Pfizer. Estados têm autonomia
Após reunião do grupo técnico que assessora o Programa Nacional de Imunizações, o Ministério da Saúde decidiu manter a recomendação de intervalo de três meses entre a primeira e a segunda dose da vacina contra Covid da AstraZeneca e também da Pfizer.
A medida, confirmada pela pasta ao jornal Folha de S.Paulo, ocorre em um momento em que diferentes estados têm anunciado que irão antecipar a aplicação da segunda dose de algumas vacinas, em especial a da AstraZeneca –o que vinha aumentando a pressão por um novo posicionamento federal sobre o tema.
O argumento dos estados seria aumentar a proteção contra possíveis novas variantes, como a delta. Especialistas, porém, apontam que não há consenso em torno da redução nestes casos. A decisão do ministério foi tomada na última sexta (16) e deve constar de documento técnico a ser enviado aos estados e municípios nos próximos dias.
Questionada pela reportagem, a pasta confirma que manterá a recomendação atual de 12 semanas de intervalo entre a primeira e a segunda dose desses imunizantes. “O Ministério da Saúde informa que acompanha a evolução das diferentes variantes do Sars-CoV-2 no território nacional e está atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado entre doses das vacinas Covid-19 em uso no Brasil. O tema foi discutido novamente na Câmara Técnica Assessora em Imunizações, em reunião realizada no dia 16 de julho deste ano. E permanece com a recomendação de manter o intervalo orientado”, informa em nota.
“Vale reforçar a importância de completar o esquema vacinal da Covid-19 para que o caráter pandêmico da doença seja superado”, completa.
De acordo com membros da pasta, apesar da recomendação, estados têm autonomia para tomar decisões, o que pode fazer com que alguns mantenham as medidas. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no entanto, tem criticado posições divergentes, afirmando que “rompem” o pacto nacional.
Recentemente, algumas entidades já haviam se manifestado contra a antecipação da segunda dose, como a Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações). A posição foi reforçada por alguns especialistas que compõem o grupo técnico que assessora o Programa de Imunizações.
“A decisão baseia-se no racional de que, em um cenário de estoque limitado de doses (como é o caso do Brasil), ao estender o intervalo, é possível acelerar a vacinação e assim, alcançar mais rapidamente uma proporção maior da população com pelo menos uma dose, antecipando desta forma a proteção de um maior número de pessoas”, aponta nota da Sbim em conjunto com a SBP (Sociedade de Pediatria).
“Importante lembrar que, para muitas vacinas, de maneira geral, intervalos maiores entre doses oferecem respostas imunes mais robustas após a segunda dose, o que, em princípio, pode se traduzir, inclusive, em respostas protetoras mais duradouras”, completa.
Atualmente, a bula da vacina da AstraZeneca diz que a segunda dose pode ser administrada de 4 a 12 semanas após a primeira–daí a decisão de alguns estados por reduzir o intervalo.
Já a bula da vacina da Pfizer fala em intervalo de pelo menos 21 dias. Ao estender o prazo para 12 semanas, o ministério alegou que medida semelhante adotada em outros países mostrou efetividade. A pasta também vinha citando estudos que mostram possível aumento da proteção com prazo maior para doses da AstraZeneca.
Governadores, no entanto, vinham pressionando o ministério por uma possível reavaliação devido ao aumento no registro de casos da variante delta, tida como potencialmente mais transmissível. O grupo também alegava ter tido parecer favorável à redução do intervalo em grupos técnicos próprios.
“É possível que possamos ter um formato de ter um plano nacional? Seria [diminuir] 15, 30 dias? Ou não altera e mantém como está? Precisamos ter essa segurança”, disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), após reunião com o ministro na última semana.
Na ocasião, Queiroga disse que a câmara técnica que assessora o Programa Nacional de Imunizações iria avaliar o tema, mas evitou dar um parecer prévio sobre as demandas. Ele também fez críticas a decisões adotadas pelos estados que contrariam a recomendação do PNI.
“É claro que existem peculiaridades, a forma de oferecer essas doses, se nas salas de imunização, se drive-thru, coisas muito próprias de cada município. Mas as bases técnicas têm que ser tomadas no âmbito técnico com todos para que tenhamos homogeneidade na conduta de aplicação da vacina”, disse. (O Tempo)