Brasileira foi a um show para 50 mil pessoas na Nova Zelândia e conta como é aglomerar de novo: “Chorei”
“Moro há mais de quatro anos em Queenstown, na Ilha Sul da Nova Zelândia, onde trabalho como cabeleireira. No dia 24 de abril, encontrei minha amiga, também brasileira, Marlone, para irmos ao show da banda Six60, no Eden Park, em Auckland, ao lado de mais de 50 mil pessoas. No show, que foi o maior da carreira deles, a gente estava muito emocionada, empolgada, só aproveitamos. Estava tudo normal, com filas nos banheiros, galera bebendo cervejinha, comendo…
Todo mundo estava lá livre, sem usar máscara. O único cuidado que a gente precisa ter na Nova Zelândia agora é nos transportes públicos: é obrigatório usar máscara em ônibus, trem, avião Eu pensava: “Aqui é o único lugar no mundo que consegue reunir 50 mil pessoas agora”. Foi histórico, lindo participar disso. Chorei muito, porque música é energia e mexe muito com a gente. É algo que vou levar para a vida toda.
No final do show, conhecemos uns australianos, que vieram visitar familiares, porque estamos com as fronteiras abertas para a Austrália, e fomos comer com eles. Sem medo nenhum, sem máscara. Aliás, por aqui, o governo fez um aplicativo para o comércio em que você se cadastra e tem um código para fazer um rastreamento de onde a pessoa foi. Se estiver com covid, eles sabem onde a pessoa esteve e cada pessoa com que teve contato naquele estabelecimento. É um controle.
Quando chegamos em casa, eu e minha amiga ficamos nos questionando por que somos tão privilegiadas e nossos amigos e familiares brasileiros estão trancados em casa há um ano e meio. Converso com outros brasileiros que estão aqui. A gente sente uma culpa toda vez que nos reunimos. É bobo, não deveríamos ter esse sentimento, mas temos. Porque estamos em uma vida normal desde junho do ano passado… Não passamos pela pandemia, praticamente”
Como a Nova Zelândia conseguiu
A estratégia foi simples: nas palavras da primeira-ministra, Jacinda Ardern, o país precisou “agir pesado e antecipadamente”.
Quando ela fechou as fronteiras aos estrangeiros no dia 19 de março, a Nova Zelândia tinha apenas 28 casos confirmados do novo coronavírus. E quando ela anunciou o lockdown nacional em 23 de março, havia apenas 102 casos confirmados – e nenhuma morte.
O lockdown foi relativamente restrito – sem praias e sem sair do bairro. As regras mais rígidas ficaram em vigor por cerca de cinco semanas, mas o país permaneceu sob um lockdown eficaz por mais de duas semanas. Tudo isso fazia parte de uma estratégia mais ampla: eliminação.
A Nova Zelândia esperou até que conseguisse baixar a curva para aliviar as restrições. No dia 8 de junho, quando a premiê anunciou que todas as restrições seriam levantadas, os cerca de 40 mil testes feitos nos 17 dias anteriores não tinham dado um resultado positivo sequer.
Desde junho, o país vinha quase voltando ao normal, e não havia necessidade de voltar ao lockdown.
A Nova Zelândia também combinou o bloqueio total com restrições mais duras nas fronteiras. Apenas cidadãos neozelandeses tinham permissão para entrar no país, e eles precisavam ficar duas semanas em uma instalação aprovada pelo governo.
Os que voltarem para casa agora terão que pagar 3.100 dólares neozelandeses (2.040 dólares americanos) pelas estruturas, caso seja uma volta temporária.
No total, 95 casos confirmados da Covid-19 foram identificados na fronteira, e 70% dos casos dos neozelandeses foram importados ou tiveram relação com casos importados, segundo estatísticas do Ministério da Saúde.